Quem disse que livros e carnaval não se misturam? Obras como “O Pequeno Príncipe”, “Macunaíma” e “Os Sertões” já ganharam diversas adaptações, inclusive como samba-enredo para o Carnaval, mas foi agora em 2024 que essas inspirações ganharam mais destaque na mídia e entre o público, confira algumas obras que invadiram o carnaval em 2024 no Rio e em São Paulo:
Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves inspirou samba-enredo da Portela
Fascinante história de uma africana idosa, cega e à beira da morte, que viaja da África para o Brasil em busca do filho perdido há décadas. Ao longo da travessia, ela vai contando sua vida, marcada por mortes, estupros, violência e escravidão. Inserido em um contexto histórico importante na formação do povo brasileiro e narrado de uma maneira original e pungente, na qual os fatos históricos estão imersos no cotidiano e na vida dos personagens.
Meu destino é ser onça, de Alberto Mussa inspirou samba-enredo da Grande Rio
Em Meu destino é ser onça, Alberto Mussa nos transporta para um dos momentos mais decisivos da formação do Brasil, pondo-nos em contato com uma cultura que sofreu reveses incalculáveis, mas, mesmo martirizada, foi capaz de moldar a brasilidade de maneira incontornável. Como brasileiros, somos, inevitavelmente, descendentes desse povo guerreiro que lutou por liberdade e sobreviveu, contra todas as probabilidades, para seguir contando sua história e honrando seu legado.
Após estudar os fragmentos de registros sobre a cultura indígena da baía de Guanabara, feitos pelo frade André Thevet, em 1550, e cotejá-los com as demais fontes dos séculos 16 e 17, Alberto Mussa reconstitui o que teria sido o texto original de uma narrativa tupinambá.
Esses escritos decifram o mundo construído pelas divindades Maíra e Sumé, além de informar sobre o surgimento desse povo nativo que se estabeleceu no litoral. Vindos da Amazônia, onde viviam há pelo menos 11 mil anos, os tupinambá se constituíam em grupos diversos e autônomos, falantes do tupi-guarani, que se espalharam pelo país. Eles acumularam um conhecimento tão precioso sobre o território que se tornou base para o estabelecimento de nossos primeiros centros coloniais do século 16. Influenciaram, assim, a língua falada, as trocas comerciais, o nomes topográficos, as disputas territoriais, a administração de aldeamentos e feitorias, a alimentação, e demais costumes dos brasileiros, entre eles, o banho e a depilação.
Aqui, conhecemos como esses indígenas influentes conceberam a criação do mundo e quais foram os acontecimentos míticos decisivos que fundamentaram sua cosmovisão. Principalmente, entendemos por que os tupinambá eram antropófagos e quais deidades os orientavam sobre o consumo da carne humana dos vencidos na guerra, cumprindo seu destino de ser onça.
A queda do céu, de Davi Kopenawa inspirou samba-enredo da Salgueiro
Um grande xamã e porta-voz dos Yanomami oferece neste livro um relato excepcional, ao mesmo tempo testemunho autobiográfico, manifesto xamânico e libelo contra a destruição da floresta Amazônica.
Publicada originalmente em francês em 2010, na prestigiosa coleção Terre Humaine, esta história traz as meditações do xamã a respeito do contato predador com o homem branco, ameaça constante para seu povo desde os anos 1960. A queda do céu foi escrito a partir de suas palavras contadas a um etnólogo com quem nutre uma longa amizade - foram mais de trinta anos de convivência entre os signatários e quarenta anos de contato entre Bruce Albert, o etnólogo-escritor, e o povo de Davi Kopenawa, o xamã-narrador.
A vocação de xamã desde a primeira infância, fruto de um saber cosmológico adquirido graças ao uso de potentes alucinógenos, é o primeiro dos três pilares que estruturam este livro. O segundo é o relato do avanço dos brancos pela floresta e seu cortejo de epidemias, violência e destruição. Por fim, os autores trazem a odisseia do líder indígena para denunciar a destruição de seu povo.
Recheada de visões xamânicas e meditações etnográficas sobre os brancos, esta obra não é apenas uma porta de entrada para um universo complexo e revelador. É uma ferramenta crítica poderosa para questionar a noção de progresso e desenvolvimento defendida por aqueles que os Yanomami - com intuição profética e precisão sociológica - chamam de "povo da mercadoria".
O
samba-enredo da União da Ilha do Governador foi inspirado livremente em Amoras, de
Emicida e em outros contos
infantis do universo da Literatura Negra brasileira.
Na música “Amoras”, Emicida canta: “Que a doçura das frutinhas sabor acalanto/ Fez a criança sozinha alcançar a conclusão/ Papai que bom, porque eu sou pretinha também”. E é a partir desse rap que um dos artistas brasileiros mais influentes da atualidade cria seu primeiro livro infantil e mostra, através de seu texto e das ilustrações de Aldo Fabrini, a importância de nos reconhecermos no mundo e nos orgulharmos de quem somos — desde criança e para sempre.
O samba-enredo da escola foi inspirado livremente
neste livro (Compre aqui) e
em outros contos infantis.
Lunário Perpétuo, de Jerónimo Cortés inspirou samba-enredo da Porto da Pedra
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Pauliceia Desvairada, de Mário de Andrade inspirou samba-enredo da Mocidade Alegre
Neste livro, o leitor encontrara a primeira obra marcadamente modernista de Mario de Andrade, um dos mais ativos participantes da Semana de Arte Moderna de 1922 e um dos principais autores do Modernismo brasileiro. Vista sob a ótica do Arlequim, da loucura, e representada por meio de recursos estilísticos inspirados nas vanguardas europeias, a Pauliceia desvairada revela-se multicultural e cosmopolita: atual, portanto, como a obra do escritor.
Os Lusíadas, de Luís De Camões inspirou samba-enredo da Unidos da Tijuca
Este épico extraordinário não apenas narra os feitos heroicos dos navegadores lusitanos, mas também moldou a própria língua portuguesa, tornando-se um símbolo da cultura e da identidade do país.
Com uma maestria única, o poeta Alexei Bueno nos presenteia com uma edição meticulosamente revisada e enriquecida por mais de 1.200 notas, que desvendam mitologias, nuances históricas e nuances linguísticas, sem interromper o fluir da narrativa.
Além disso, esta edição traz à luz as estrofes outrora omitidas, conferindo ao leitor uma visão ainda mais completa da grandiosidade de Camões.
As páginas ganham vida com ilustrações marcantes, transformando esta edição em um verdadeiro tesouro visual. Não apenas uma leitura, mas uma imersão profunda e enriquecedora na epopeia que forjou Portugal.
Tempo De Caju, de Socorro Acioli inspirou samba-enredo da Mocidade Independente
Os cajueiros exigem paciência, pois só dão frutos uma vez por ano. A cada safra, Porã guardava uma castanha em sua cabaça. Junto dela, conservava uma outra cabaça, que o avô lhe deixara como herança. Ao completar sete anos, Porã teve de fugir com sua tribo da invasão de um povo inimigo. Mal sabia ele que, ao final daquela longa jornada, os cajueiros lhe ensinariam algo muito importante. Com as belíssimas ilustrações de Mauricio Negro, Tempo de caju é uma história inspirada numa antiga tradição dos índios brasileiros e recriada de forma poética por Socorro Acioli.
Além dessas obras, A Imperatriz
Leopoldinense, campeã do carnaval carioca em 2023, vai trouxe para a avenida
o enredo "Com a sorte virada pra lua segundo o testamento da cigana
Esmeralda" baseado em um cordel escrito há mais de 100 anos pelo
poeta paraibano Leandro Gomes de Barros.
Pela mão e genialidade literária de Leandro de Barros nasce mais uma personagem incrível e intrigante, simples e importante. Mais preciosa que a pedra que traz seu nome, Esmeralda, que deixou em testamento algo que destoa da materialidade. Nele escreveu todas as formas de ler a sina de uma pessoa, desde pelas linhas delicadas que traçam a palma da mão, até pelo conteúdo de um sonho.
Há muito a Cigana Esmeralda desvendava os segredos guardados nas várias linhas de uma mão. O fazia com maestria e técnica, anotando o que cada traço e seus cruzamentos representaria na vida da pessoa.
Nos sonhos não era diferente, tudo tinha sentido e impacto na existência de quem o sonhava, e Esmeralda o sabia traduzir bem.
Não importava se nascido com saúde ou bem afortunado, jovem ou velho, até recém nascido era enviado para que sua sina fosse dita.
Após sua morte, seu testamento serviria como um manual, e quem o encontrasse, grande sabedoria adquiriria.
Sua morte como única certeza chegou e seu testamento foi encontrado na Europa, onde vivia, por um grupo de ciganos que ao Brasil o levaria.
Agora pergunto a você leitor, acreditas no destino? Gostaria de conhecer tua sina?
Mais importante que isso, conseguirás desvendar e interpretar tudo que Esmeralda compilou em seu testamento?